terça-feira, 26 de junho de 2012

Poema sentido


E a escuridão era tamanha, a me confundir se abertos ou fechados meus olhos andavam.
Passei a te ver com as mãos!
De palmo à palmo vi tua altura.
De palma à palma li tuas linhas.
De palma com palma as encaixei nas minhas, linha à linha.
Sem costura.
Escorreguei as mãos pelos teus braços, e pelas axilas os ergui.
Te pus em pose de entrega.
Mas a distância veio.
E esta era tamanha de ser inútil esticar meus braços.
Então traguei teu cheiro que inundara minhas mãos,
E te senti dentro de mim, vasculhando o que era teu.


Aldemir Júnior

terça-feira, 19 de junho de 2012

Poema da insônia


Cheiro uma madrugada fria, silenciosa e não menos que uma mulher,
e como só elas sabem, assim tão misteriosa. 
É a madrugada que serve em bandeja, não o que é de desejo, mas o que é de surpresa. E de fome, do alimento me basta o cheiro;
do tempero; da pitada que aperfeiçoa.
A madrugada da noite caçoa.
A noite? Se deita, se encobre, nada declara.
A madrugada é quando a noite se cala.


Aldemir Júnior

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Meus meninos


O cálculo errado e a subtração.
E os cantos da boca que não contam, nem sabem
Elasticamente se afastam.
Dentes, poucos se veem.
Vê-se o impulso pego e o abandonar o chão
É o confeito e o dia na mão. É tudo dele.

Pra nós, a sobra é costume.
Pra ele: à medida é fartura; o ‘na conta’ passa.
Dessa ingenuidade
Que vem porque tem de vim
Que foge porque é preciso, bem cedo ter que fugir;
Que morre de olhar virado, concreto sabor salgado;
Doce gosto de olhar, sem ter pecado.

Não morre, se sacrifica
Para o corpo que ela habita
Ganhe tempo, sobreviva
Ganhe ombros, cacunda vida!

Rebento meu e teu, gerado na escuridão
Do útero frio e hostil do abandono.
Prole a quem se nega o seio certo que pinga, que escorre, que vaza.

Quem sabe durante a vida não tenha ele uma própria
Que não, ou além
De flashes para baixo, adolescência em jornais?
Falece a esperta e altruísta inocência
Para dar um “Siga” aos meus pivetes e seus sinais.

Limpa vidros com suor do sol,
Carteiras com lágrimas da noite, e de quem não dá,
E o mais que lhe tocar a vista
Sem ser visto!
E o que não lhe tocar
Cede ao intuito aprendido
De saber que está lá, ou que deveria.

Assim, a mão que se estende, pede.
A que se cala, desvia.


Aldemir Alves de Lima Júnior