quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Poema aberto


Eu vejo tantos que amam tantas, e tantas que amam outros tantos.
E também vejo uns tantos que amam tanto alguns poucos, e verdadeiramente amam,
E uns poucos que realmente amam quase todos.

Mas há tantos, tantos, tantos que amam tão pouco quem mereciam ser tanto amados, que esse tanto é Todos!
Que debochem ou se indignem os que são desonestos consigo mesmos.

Amar e não amar é inerente a mim.
E não, não desconheço minhas capacidades, mas também não ignoro que não sou homogêneo, puro, e não construo arranha-céus apenas apontando para o céu.

Apenas Deus apenas ama!
E eu não sou Deus, nem há em mim pretensão de sê-lo.
Sou criatura criada. Que preciso fazer e refazer para fazer perfeito, e não faço.
E também não faço porque me recuso a ousar no inatingível, contar o infinito, abraçar a brisa, mensurar a dor da perda...

Se eu puser uma adaga em meu pescoço, e me forçar a gritar que eu só amei e nunca deixei de amar, certamente morrerei mudo.
E se em pensamento eu me condenar por isto,
Morrerei mudo e contradito.
E chegarei ao inferno e não falarei com ninguém.

Aldemir Alves

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

De tudo viste espelho meu


Mas de tudo viste destes e nestes meus quietos olhos:
A promoção na vitrine; o fim do trailer;
A faca do inimigo; a vastidão inútil do meu desejo.

Pobre de nós homo de pouca sapiência.
Pobre de nós que olhamos o céu e o conquistamos;
Vimos a lua, e hasteamos bandeira;
Subimos às galáxias e abraçamos a órbita,
Mas não vimos os onipresentes olhos de Deus.
Pobre de nós que acreditávamos ali vê-los.

O amor não cabe em molduras.
Se esquiva de mãos, dedos, da comunhão universal de bens...

Que também o futuro, assim como quem ama,
Flutua de uma ponta a outra,
Entre a impotência e a onipotência, eu é que sei.
Mas,
Ter saltado todos os saltos que saltei?!
Ter sonhado todos os sonhos que sonhamos?!
Também meu choro...
Por onde corres, gota que não descamba?
Habita agora a fronte minha, lágrima que eu já chorei,
E molha o olho que tanto deseja;
Mas pro coração deixa o desabafo, se voz ainda houver.

Quisera eu um punhado de ressaboreios!

Mas “De tudo fica um pouco!” lastimou o poeta.
De mim em ti, se cumpriu.
De ti em mim, deixo vazar sob as letras o que me esborra.

Aldemir Júnior

terça-feira, 26 de junho de 2012

Poema sentido


E a escuridão era tamanha, a me confundir se abertos ou fechados meus olhos andavam.
Passei a te ver com as mãos!
De palmo à palmo vi tua altura.
De palma à palma li tuas linhas.
De palma com palma as encaixei nas minhas, linha à linha.
Sem costura.
Escorreguei as mãos pelos teus braços, e pelas axilas os ergui.
Te pus em pose de entrega.
Mas a distância veio.
E esta era tamanha de ser inútil esticar meus braços.
Então traguei teu cheiro que inundara minhas mãos,
E te senti dentro de mim, vasculhando o que era teu.


Aldemir Júnior

terça-feira, 19 de junho de 2012

Poema da insônia


Cheiro uma madrugada fria, silenciosa e não menos que uma mulher,
e como só elas sabem, assim tão misteriosa. 
É a madrugada que serve em bandeja, não o que é de desejo, mas o que é de surpresa. E de fome, do alimento me basta o cheiro;
do tempero; da pitada que aperfeiçoa.
A madrugada da noite caçoa.
A noite? Se deita, se encobre, nada declara.
A madrugada é quando a noite se cala.


Aldemir Júnior

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Meus meninos


O cálculo errado e a subtração.
E os cantos da boca que não contam, nem sabem
Elasticamente se afastam.
Dentes, poucos se veem.
Vê-se o impulso pego e o abandonar o chão
É o confeito e o dia na mão. É tudo dele.

Pra nós, a sobra é costume.
Pra ele: à medida é fartura; o ‘na conta’ passa.
Dessa ingenuidade
Que vem porque tem de vim
Que foge porque é preciso, bem cedo ter que fugir;
Que morre de olhar virado, concreto sabor salgado;
Doce gosto de olhar, sem ter pecado.

Não morre, se sacrifica
Para o corpo que ela habita
Ganhe tempo, sobreviva
Ganhe ombros, cacunda vida!

Rebento meu e teu, gerado na escuridão
Do útero frio e hostil do abandono.
Prole a quem se nega o seio certo que pinga, que escorre, que vaza.

Quem sabe durante a vida não tenha ele uma própria
Que não, ou além
De flashes para baixo, adolescência em jornais?
Falece a esperta e altruísta inocência
Para dar um “Siga” aos meus pivetes e seus sinais.

Limpa vidros com suor do sol,
Carteiras com lágrimas da noite, e de quem não dá,
E o mais que lhe tocar a vista
Sem ser visto!
E o que não lhe tocar
Cede ao intuito aprendido
De saber que está lá, ou que deveria.

Assim, a mão que se estende, pede.
A que se cala, desvia.


Aldemir Alves de Lima Júnior

domingo, 8 de abril de 2012

Poesia 1

Saísses da minha vida com: “Quem sabe um dia...”.

Levei um banho.

- Mas banho é bom Maria!

Ora,

Ponto e vírgula cruel!

Futuro sádico que se arrasta.

Esperança, que és minha cria

Doa-me dias e me basta

Um que não doa já daria.

Me mostra a cara da vadia

Sobe a braguilha do meu macho

Do que me sobra, só tenho “um dia...”.

Fecundo ele, é onde eu nasço.

Primeira composição. Um sambinha de leve...

Ouro no dedo dela é futuro perto,
Amor talvez. Do jeito dela e com dia certo.
Pra não chamar Dr. Ricardo com seu saber, com seu prazer
E furtar meu leito,
Roubar meu jeito,
Fazer (D) direito.

E amanhã me contrato no trabalho,
segunda à sábado vou em pé que ta lotado,
pra vê Bentinho, só domingo ou feriado.

Adeus, vou dormir. - Bença mamãe!

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Valentia

Varri para o "canto das não-lembranças" Tu,
que prometia às pressas e quase cumpria, ou aos poucos e por pouco,
muito pouco.
E contigo, e de Mim, partiram em debandada algumas sequelas;
algumas só, as que guardava só pra ti porque de ti vieram, não as minhas.
Lutei com o Receio pela Ousadia. A tive. O sangrei.
Gaguejei, mas te nomeei vice!
Me senti como num empurrão sem mãos de uma topada;
assim fui passando por ti e olhando pra trás com a dor e a certeza de um passo.

(Aldemir Jr.)

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Poema do perdido

nada mais aqui parece ter o mesmo brilho

desbotou, em meu dedo, o outrora indestrutível

foram-se embora os meus sabores.

meu chá, salgado.

meu café, amargo.

ao meu lado já não mais estão os meus amores.

tereza, falecida.

joaquina; com o circo, fugida.

tal qual meu companheiro duque, sem sequer se explicar.

risoleta saiu de minha vida; assim, tão decidida.

e arlete; ah, bandida!

foram-se embora minhas riquezas.

também já não tenho mais as cores

meu contemplar é tal qual o de uma viúva ao seu moribundo

o nascer do sol, aos meus olhos, se assemelha ao crepúsculo

tampouco me é presente a doçura das canções.

o mais altivo frevo me parece uma ladainha.

a cigarra é um grilo.

e o corvo, uma andorinha.

todavia, não há de ser eternamente insosso o meu destino

uma hora regressarei ao ponto de onde todos partimos

e libertar-me-ei, enfim, das algemas de onde estou para o infinito.


(Yuri Pereira)

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Sorte

Saudades até tenho, mas não morro. Não antes delas. As mataria sorrindo não fosse o tempo embora, depressa, fugindo, correndo hora a hora.
Desejos sim! Morro deles um pouco por dia e ando mais vivo que ontem. Os consumiria todos te tivesse por perto. Com peitos em costas, cabelos em mãos, lençóis no chão... Depois cigarro em dedos, mãos em cabelos.
Mas vã é minha gana.
Já abdiquei de ti, quando calmo à noite, sumi.

(Aldemir Júnior)

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Tabacaria (Fernando Pessoa)


TABACARIA

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim…
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno – não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,

Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma conseqüência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Atitudes

Na demora de minha espera aflorou o interessante.

Apostei em meu olhar de convite! Fechei o livro de romance, e como uma boa mulher, me deixei conduzir. E me forjei de perfeita, te omiti quase nada pra ser bem aceita, me dediquei no ofício de te fazer homem gole após gole de revés, dei meu corpo singelo e minha alma ingênua.

Te dei um jeito! Mas só vi costas. E à costas distantes outra tem num instante meu homem bem feito!

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Poema quase perdido

Instantâneo e instintivamente. Como num reflexo. E com tal velocidade ela partiu. Quaaase partindo-me ao meio.

E foi...

Espontânea e tão rápida quanto uma esquiva bem treinada, deixou-me. Quaaase levo uma direita do amor.

Tudo tão efêmero, que as mãos nem tempo tiveram de dizer: - Vá!

E o poema sentiu. De maneira que meus versos lentamente perderam os poucos quilates que tinham.
Ela deixou o autor só, no seu vazio.
Só, sozinho!

Aldemir Júnior

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Entrega rápida

Aí, uma vez só eu fui.
E lá, por tá só,
vi só a mim.
Sem sol,
nem luz,
eu vim.
É só.
Sem "mas".
Vê só:

É O FIM!

Aldemir Júnior

quarta-feira, 28 de abril de 2010

À ela!

Há amores que nos aprisionam. E arbitrariamente nos arrancam o livre arbítrio de substituí-lo.

Consequentemente nos impõe, sem direito a contraditório, uma pena privativa de felicidade. (Detalhe: de caráter perpétuo), pondo no cárcere da solidão aquilo nos mantia vivos: a esperança.

Impossível é a fuga!

Não tente pular o muro ou subornar o guarda. Você é o muro, você é quem o guarda.

E assim, recluso no regime fechado do seu eu, você segue sua vida, agora medíocre, vitimado de uma mulher coquete.

Por fim, incrédulo de tal realidade, fatigado de ser réu, arrependido diz pra si:

- Valia a pena ser revel!



Aldemir Júnior

terça-feira, 20 de abril de 2010

Da crueldade do tempo

ô bicho cruel é o tempo.
Intransigente, guarda pra si próprio todos os momentos.
Indiferente, não aceita visitas.

Na memória, as ilusões dos momentos de outrora.
Vagas, vãs, immperfeitas.
Sentimentais, poéticas.

Vai, Einstein! Pede ao tempo mais tempo para construires a máquina.


Da minha escrita

Minha escrita é a lápis.
Não tem forma, não tem cor.

Não tem

grade.

Minha escrita é livre.
livre.
libre.
libro.




Yuri César Serapião

domingo, 31 de janeiro de 2010

Introspectiva

Todos os dias eu mudo;
todos os dias eu sou o mesmo;
todos os dias eu levo algo de alguém;
que fico comigo em segredo.

Todos os dias eu mudo;
e percebo diante do espelho;
que além de levar algo de alguém;
também deixo algo de mim mesmo.

Todos os dias eu mudo;
já é tanto que nem sei quem sou,
e está me deixando tão confuso
eu me olhando em cima do muro.

Que vida chata de espectador!

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Atrás de mim

Ser poeta é estar em sintonia com seu arredor;
é ser sentimental com Maria que agora é viúva;
é estar preocupado com um país melhor;
é aconselhar João a ir à luta.

Mas o poeta é acima de tudo um explêndido observador.
É aquele que percebe quem passou pela igreja da Baixa Verde e fez o sinal da cruz;
conta quantas feinhas e quantas lindinhas atraíram o olhar do vendedor de coco, que já nem sabe o significado de alvará da Prefeitura, e com essa benéfica ignorância é o terceiro filho que sustenta.

Eu, inexperiente na vida, piloto meus pensamentos vagando na ilusão de um dia me tornar um.
Ah! viver como um já requer coragem.

Sou solitário!
Ponto final


Aldemir Júnior

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A cor verde dos meus olhos

Nas vezes em que vedes meus olhos verdes
Te importas com a cor e não com o amor que saem deles
Pois no dia que olhares meus olhos verdes
e vedes o amor que brotam deles
E quando não atentares apenas
Para esta cor obscena
Que teus sentimentos envenena
No mínimo de mim sentirás pena.

Porque em meus olhos há mais vermelho de paixão
que o verde de esperança que aparenta.

Mas se de mim tiveres compaixão
E passar a amar-me de todo coração
Com fim de ver eterna esta união
De mim não sentirás mais pena
Hás de sentir apenas a força deste poema
Que para te conquistar valeu a pena.

E por fim, se depois desta celeuma
de amor tu sentires sede,
Te peço. Vaino início deste verso e vede
Que a fonte que sacia essa tua sede
é tu olhar com outros olhos o meus olhos verdes.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Bar ruim é lindo, bicho

Bom, achei esse texto ao acaso na internet e notei que se identifica muito cmg, com o que eu tento ser, algo assim. É bom dar uma lida, é muito interessante.


Por Antonio Prata

Eu sou meio intelectual, meio de esquerda, por isso freqüento bares meio ruins.
Não sei se você sabe, mas nós, meio intelectuais, meio de esquerda, nos julgamos a vanguarda do proletariado, há mais de 150 anos. (Deve ter alguma coisa de errado com uma vanguarda de mais de 150 anos, mas tudo bem).
No bar ruim que ando freqüentando nas últimas semanas o proletariado é o Betão, garçom, que cumprimento com um tapinha nas costas acreditando resolver aí 500 anos de história.
Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos ficar "amigos" do garçom, com quem falamos sobre futebol enquanto nossos amigos não chegam para falarmos de literatura.
"Ô Betão, traz mais uma pra gente", eu digo, com os cotovelos apoiados na mesa bamba de lata, e me sinto parte do Brasil.
Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos fazer parte do Brasil, por isso vamos a bares ruins,que tem mais a cara do Brasil que os bares bons, onde se serve petit gateau e não tem frango à passarinho ou carne de sol com macaxeira que são os pratos tradicionais de nossa cozinha.
Se bem que nós, meio intelectuais, quando convidamos uma moça para sair pela primeira vez, atacamos mais de petit gateau do que de frango à passarinho, porque a gente gosta do Brasil e tal, mas na hora do vamos ver uma europazinha bem que ajuda.
A gente gosta do Brasil, mas muito bem diagramado. Não é qualquer Brasil.
Assim como não é qualquer bar ruim.
Tem que ser um bar ruim autêntico, um boteco, com mesa de lata, copo americano e, se tiver porção de carne de sol, a gente bate uma punheta ali mesmo.
Quando um de nós, meio intelectuais, meio de esquerda, descobre um novo bar ruim que nenhum outro meio intelectual, meio de esquerda freqüenta, não nos contemos: ligamos pra turma inteira de meio intelectuais, meio de esquerda e decretamos que aquele lá é o nosso novo bar ruim.
Porque a gente acha que o bar ruim é autêntico e o bar bom não é, como eu já disse.
O problema é que aos poucos o bar ruim vai se tornando cult, vai sendo freqüentado por vários meio intelectuais, meio de esquerda e universitárias mais ou menos gostosas.
Até que uma hora sai na Vejinha como ponto freqüentado por artistas, cineastas e universitários e nesse ponto a gente já se sente incomodado e quando chega no bar ruim e tá cheio de gente que não é nem meio intelectual, nem meio de esquerda e foi lá para ver se tem mesmo artistas, cineastas e universitários, a gente diz: eu gostava disso aqui antes, quando só vinha a minha turma de meio intelectuais, meio de esquerda, as universitárias mais ou menos gostosas e uns velhos bêbados que jogavam dominó.
Porque nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos dizer que freqüentávamos o bar antes de ele ficar famoso, íamos a tal praia antes de ela encher de gente, ouvíamos a banda antes de tocar na MTV.
Nós gostamos dos pobres que estavam na praia antes, uns pobres que sabem subir em coqueiro e usam sandália de couro, isso a gente acha lindo, mas a gente detesta os pobres que chegam depois, de Chevete e chinelo Rider.
Esse pobre não, a gente gosta do pobre autêntico, do Brasil autêntico.
E a gente abomina a Vejinha, abomina mesmo, acima de tudo.
Os donos dos bares ruins que a gente freqüenta se dividem em dois tipos: os que entendem a gente e os que não entendem.
Os que entendem percebem qual é a nossa, mantém o bar autenticamente ruim, chamam uns primos do cunhado para tocar samba de roda toda sexta-feira, introduzem bolinho de bacalhau no cardápio e aumentam em 50% o preço de tudo.
Eles sacam que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, somos meio bem de vida e nos dispomos a pagar caro por aquilo que tem cara de barato.
Os donos que não entendem qual é a nossa, diante da invasão, trocam as mesas de lata por umas de fórmica imitando mármore, azulejam a parede e põem um som estéreo tocando reggae.
Aí eles se fodem, porque a gente odeia isso, a gente gosta, como já disse algumas vezes, é daquela coisa autêntica, tão brasileira, tão raiz.
Não pense que é fácil ser meio intelectual, meio de esquerda, no Brasil!
Ainda mais porque a cada dia está mais difícil encontrar bares ruins do jeito que a gente gosta, os pobres estão todos de chinelo Rider e a Vejinha sempre alerta, pronta para encher nossos bares ruins de gente jovem e bonita e a difundir o petit gateau pelos quatro cantos do globo.
Para desespero dos meio intelectuais, meio de esquerda, como eu que, por questões ideológicas, preferem frango a passarinho e carne de sol com macaxeira (que é a mesma coisa que mandioca mas é como se diz lá no nordeste e nós, meio intelectuais, meio de esquerda, achamos que o nordeste é muito mais autêntico que o sudeste e preferimos esse termo, macaxeira, que é mais assim Câmara Cascudo, saca?).
- Ô Betão, vê um cachaça aqui pra mim. De Salinas quais que tem?

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Rotina desigual

Quanto tempo se passou e eu aqui. Deitado em minha cama, o abajur aceso, a bossa no fundo me acalmando e tangendo os pensamentos ruins para bem longe;
Quanto tempo se passou e pouca coisa mudou. Ainda vamos à bares nos finais de semana, ainda ficamos no tédio às 17h do domingo, ainda temos a esperança de que um bom governante tome a direção do nosso país, ainda sofremos por amor e ainda dispensamos quem nos quer na ilusão de ter quem não nos quer.
É, algumas coisas continuam em estática, outras sempre se dinamizando, e cabe a nós ficarmos parados ou ir acompanhando.
Quanto tempo se passou.
O Brasil já não tem a melhor seleção e já não se faz mais as coisas por amor;
Já não cumprimentamos uns aos outros e das frutas já não se sente mais o seu real sabor.

O homem cada vez mais se convence de que o planeta terra é pequeno demais para se viver e dia a dia descobrimos novas espécies de plantas e animais.

A música ainda emociona e um bom artista ainda demora a ser consagrado;
Jesus ainda estar por vir e o negro continua a ser discriminado.

Permanecemos hipócritas e aos poucos estão acabando com a tradição!

MEUS AMIGOS!!

A amizade já se compra! E a saudade ainda dói!
Ouvir lição de moral ainda é chato
Tiradentes não deixou de ser inconfidente. E também herói.

Andar na praia ainda relaxa, mas um buquê já não conquista mais;
Maomé não vai mais à montanha, nem a montanha procura mais Maomé.

Ainda contamos os dias para o feriado seguinte, ficamos ansioso pra receber um convite e receioso para dar um palpite;
Ás vezes é difícil saber o que é errado e o que é certo, o segredo é não se preocupar com conceitos impostos como sobre o que é longe e o que é perto.
Agora exausto termino meu verso
lhe mostrando o quão o ser humano é complexo.

Aldemir Júnior

terça-feira, 2 de setembro de 2008

MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA

"Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se, que companhia nem sempre significa segurança, e começa a aprender que beijos não são contratos, e que presentes não são promessas

Começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança; aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.

Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo, e aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam... aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso. Aprende que falar pode aliviar dores emocionais, e descobre que se leva anos para se construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que você pode fazer coisas em um instante, das quais se arrependerá pelo resto da vida; aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias, e o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida, e que bons amigos são a família que nos permitiram escolher. Aprende que não temos que mudar de amigos se compreendemos que eles mudam; percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos.

Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa, por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas; pode ser a última vez que as vejamos

Aprende que as circunstâncias e os ambientes tem influências sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos. Começa a aprender que não se deve compará-los com os outros, mas com o melhor que podem ser. Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto. Aprende que não importa onde já chegou, mas onde se está indo, mas se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar serve. Aprende que ou você controla seus atos, ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados. Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências. Aprende que paciência requer muita prática.

Descobre que algumas vezes a, pessoa que você espera que o chute quando você cai é uma das poucas que o ajudam a levantar-se; aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas do que com quantos aniversários você celebrou; aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha; aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens; poucas coisas são tão humilhantes... e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.

Aprende que quando se está com raiva se tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel. Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame não significa que esse alguém não o ama com tudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso. Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém; algumas vezes você tem que aprender a perdoar a si mesmo. Aprende que com a mesma severidade com que julga, você será em algum momento condenado. Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte. Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás, portanto, plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores, e você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais.

Descobre que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida! Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar, se não fosse o medo de tentar."


William Shakespeare

Democracia do amor

Amor, algo incondicional. Ninguém explica.
Isso é que me irrita!
E estar nessa situação,
de ver algo sem explicação,
estando atadas as minhas mãos
para dar uma solução.

Ora essa, o que eu fiz para receber isto?
Será que foi algum maldito
que também sofrendo de amor
deu um baita grito
E estando eu por perto e de ouvidos bem abertos
me passou esse ar de aflito?!

E agora, será que passa essa amargura?
Será que o cara que gritou conseguiu a cura?
Serei eu escravo desta ditadura?
Não. Colocarei minha armadura e lutarei como Prestes,
só assim estarei prestes a vencer esta batalha com bravura.


Aldemir Júnior

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Algo que escrevi numa noite.....

De tanto querer ocultar meus sentimentos,
terminei por demonstrar o que estava sentindo;
De tanto dizer a verdade e jurar minha sinceridade,
descobri que estava mentindo;

Mentindo pra quem?
Mentir pra si próprio é o ápice da burrice!

De tanto classificar sua presença como indiferente,
acabei por sentir sua falta;
De tanto lembrar dela quando estava ausente,
vi que a saudade mata;
De tanto enxergar defeitos em suas atitudes,
me convenci que amar é uma virtude;
De tanto realizar cálculos mentais
para auferir a probabilidade de ser feliz,
enxergo a minha idiotice de querer dar lógica ao amor.
Me arrependo de tudo que fiz.
Mas agora tudo passou.
O tudo se fez nada, perdeu-se no vazio
Agora é solidão, dor, amargura, calafrio,
Quero a cura de um novo amor,
Quero um coração sadio.

Aldemir Júnior

Cartola, o poeta do morro


ACONTECE

Esquece o nosso amor, vê se esquece.
Porque tudo no mundo acontece
E acontece que eu já não sei mais amar.
Vai chorar, vai sofrer, e você não merece,
Mas isso acontece.
Acontece que o meu coração ficou frio
E o nosso ninho de amor está vazio.
Se eu ainda pudesse fingir que te amo,
Ah, se eu pudesse
Mas não quero, não devo fazê-lo,
Isso não acontece.

A busca

Realmente não me conheço,
mas à parte; a parte que me conheço
sei que devo conhecer a arte,
pois ela é a única parte em mim que nunca parte.
Não conheço a arte, mas sei que ela está em mim.
Ainda hei de exteriorizá-la!

Aldemir Júnior